sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Carta à minha Mãe

2ª Feira, 3 de Outubro
Ano de 1973
Lembro hoje com saudade
da minha primeira vez

Recordo o primeiro dia
Com saudade mas também
Que entrei na sala de aula
Com minha saudosa Mãe

Lembro quando me dizias
" Não fiques preocupado
Tu és muito inteligente
Vais dar conta do recado"

Tu tinhas orgulho de mim
Orgulho do meu saber
Dizias a toda a gente
" O meu Zé já sabe lêr"

Quando tinha cinco anos
Estavas Tu ainda deitada
Fui a correr ter contigo
Dizer-te a tabuáda

Tu ficavas tão contente
E eu de te ver assim
Que tinha mesmo a certeza
Que Tu gostavas de mim

Mas a vida foi correndo
Os anos foram passando
Pouco a pouco fui vivendo
E tu Mãe, foste mudando

Tua alma ficou triste
Teu coração a secar
Eu à espera de um carinho
Não me deste, e fui chorar

Perguntei-te " eu não entendo
O que é que se passou
Se eu era o teu menino
Porque agora não o sou?"

Tua boca não se abriu
Nunca me disses-te nada
Fiquei triste, e então chorei
Minha alma ficou calada

Quando uns anos mais tarde
Da escola quis sair
Queria aquelas palavras
Da tua boca ouvir

Dizeres-me outra vez
" Não fiques procupado
Tu és muito inteligente
Vais dar conta do recado"

Mas Tu não disses-te nada
E eu queria o teu falar
Só faltou o teu carinho
Para eu continuar

Mas perdou-te minha Mãe
Desculpa-me estas verdades
Mas tinha-te que escrever
Eram muitas as saudades

Termino pedindo a Deus
Que te guarde junto a Si
E que saibas minha Mãe
Vou gostar sempre de ti

MÃE II

Pelas mãos de minha mãezinha
Andei pelos tempos de então
Hoje como está velhinha
É ela que anda pela minha
Faço minha obrigação

Quase que perdeu o tino
Pobre mãe, como mudou
Que coisas há no destino
Hoje sou eu que lhe ensino
Tudo o que ela me ensinou

Sua radiosa alegria
Em sua alma é defunta
Ela que tudo sabia
E que tudo me dizia
Hoje tudo me pergunta

E agora só peço a Deus
Que neste mundo de escolhas
Quando ela for para os Céus
Seja eu quem feche os olhos
Àquela que abriu os meus.